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REGIÃO • 29/02/2020

Vaza áudio do diretor de UPA de Ourinhos para médica sobre internar paciente: Só se for morrer

Organização que administra a unidade de saúde abriu processo administrativo para apurar os fatos.

Vaza áudio do diretor de UPA de Ourinhos para médica sobre internar paciente: Só se for morrer

Um áudio divulgado na noite desta quinta-feira (27) em sessão da Câmara de Ourinhos (SP) mostra o diretor da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade orientando uma médica sobre a internação dos pacientes no local. "Só interna se for morrer", diz o médico na gravação.

A administração da UPA confirmou, em nota, que o áudio foi enviado via WhatsApp pelo diretor para a médica que fazia parte do corpo clínico da unidade emergencial de saúde.

Na gravação, é possível ouvir o profissional dizendo que a unidade já transferiu todos os pacientes possíveis para a Santa Casa da cidade. Por isso, a orientação é não internar os pacientes, a não ser que eles fossem morrer. (Ouça abaixo)

"É para internar só se o paciente for morrer. Se o paciente não for morrer, não interna. Manda para casa, faz receita. Não é para internar se o paciente for ficar com "coisinha" no UPA. (...) A gente já mandou tudo o que tinha para mandar, não tem mais canto nenhum na Santa Casa", diz no áudio.

Em nota, o diretor da UPA, Jan Chryslen Silva da Costa, informou que o diálogo foi divulgado fora de um contexto e que a intenção dele era evitar internações desnecessárias.

“Sobre o teor do áudio, é necessário esclarecer que a minha intenção era resolver um problema recorrente na UPA, consistente na realização de internações desnecessárias, por determinados plantonistas, com o simples propósito de adiar a solução do caso e transferir a incumbência para o médico que assumisse o próximo plantão”, afirma o diretor na nota.

Sobre a orientação de que era para internar só no caso do paciente que fosse morrer, o diretor informou que “as palavras que usei no áudio podem soar agressivas a pessoas que não são médicas, mas são termos comuns, entendidos perfeitamente por quem atua na área, os quais se referem a casos de grande gravidade.”

O diretor destaca ainda que já consultou seus advogados para tomar as medidas cabíveis em relação a divulgação do áudio.

Diante das constatações, a Organização Social Pró-Vida, que administra a UPA 24h, abriu um processo administrativo para apurar as circunstâncias do fato e uma reunião foi realizada nesta sexta-feira (28) para definir as atitudes que serão tomadas. O diretor foi afastado das funções até o esclarecimento dos fatos.

A empresa disse também que as palavras do diretor da UPA não correspondem às convicções da OS Pró-Vida, lamenta o fato e informa que considera a possibilidade de acionar medidas judiciais cabíveis para o seu devido esclarecimento.

"Não é para internar se o paciente for para ficar com 'coisinha' no UPA", diz diretor da unidade em Ourinhos — Foto: TV TEM/Reprodução

A médica que recebeu o áudio foi demitida após a orientação do diretor. A profissional relatou sofrer perseguições do médico, além de críticas constantes pelos pedidos de internações. Ela disse à TV TEM que não acatou a ordem do diretor porque ela foi "absurda".

"Em primeiro lugar. vem os meus pacientes. Tenho que tratá-los com respeito e a ética médica me manda usar de todos os meios necessários para um diagnóstico mais preciso, e era isso que eu sempre fiz", admitiu a profissional.

Em nota, a prefeitura de Ourinhos informou que enviou um ofício à Pró-vida, solicitando um esclarecimento sobre o áudio e as medidas que serão adotadas. Destacou, ainda, que a prefeitura tem 110 leitos na Santa Casa para a transferência de pacientes que necessitam internação.

A Santa Casa de Ourinhos também se posicionou e disse que é considerada um dos 50 melhores hospitais do país, de referência regional e que atende 13 municípios.

A respeito da transferência de pacientes da UPA Ourinhos, o hospital informou que todos são atendidos de acordo com a solicitação de vaga, ressaltando ainda que atende em torno de 100 internações a mais por mês para manter o fluxo da necessidade regional.

Na nota da Santa Casa, também consta que mais de 80% dos atendimentos em Ourinhos são realizados pelo SUS, sendo que são 110 leitos disponíveis para SUS.

No entanto, o hospital informou que existe um déficit mensal de R$ 100 mil a receber do SUS, pois a Santa Casa atende mais pacientes que o sistema paga. Segundo ela, o montante acumulado a receber chega a quase R$ 3 milhões.

A TV TEM entrou em contato com o SUS, mas ainda não obteve retorno.

 

Fonte G1