Abordagem Notícias
DOM CUMPIM
LOCAL • 27/05/2022

Ex-seminarista denuncia dois padres de Assis por abusos sexuais

Documentos foram enviados ao Vaticano, que solicitou investigação à Diocese de Assis.

Ex-seminarista denuncia dois padres de Assis por abusos sexuais

Há alguns dias, o portal Abordagem Notícias recebeu uma informação bombástica envolvendo dois padres de Assis e, desde então tem avaliado criteriosamente o caso, em busca de informações contundentes, as quais chegaram através de cópias de documentos enviados ao Vaticano, depois de as denuncias serem devidamente registradas pelo Tribunal Eclesiástico de Botucatu-SP. As denuncias de abusos sexuais praticados contra um ex-seminarista de Assis, quando tinha 16/17 anos de idade, foram consideradas relevantes para Roma, que enviou à Diocese de Assis o pedido de continuidade das investigações que acusam os dois padres.

Juntamente com os documentos, protocolados, o ex-seminarista anexou ao processo áudios de conversas com os padres que acusa, através do qual, um dos religiosos insiste em um encontro pessoal para uma solução que denomina “gesto concreto”. Na ótica do denunciante trata-se de uma tentativa de suborno. Referido áudio teve a duração de 26min4s e, junto com o outro, de 1min3s, foi encaminhado à reportagem. 

A identidade dos envolvidos será preservada por se tratar de acusação bastante grave e sob investigação – inclusive, pela igreja.

Nesta manhã de sexta-feira, 27, a reportagem tentou falar com o bispo, Dom Argemiro Azevedo, mas a informação é que ele está em viagem. Não foi informado o celular dele, mas foi deixado o número da redação para que, caso queira, entre em contato.

Os padres não foram procurados, por sequer as iniciais deles terem sido citadas. A um blog (blog do Rodrigo) que noticiou os supostos abusos sexuais, um dos padres afirmou desconhecer as acusações. O outro, questionado sobre o áudio, disse entender não ter havido nenhuma tentativa de suborno. Ele justificou seu silêncio diante das acusações por estar “sob sigilo” diante da investigação iniciada pela igreja, ainda em 2021.

Formalizada em 8 de janeiro de 2021 no Tribunal Interdiocesano de Botucatu, sediado em Assis, a denúncia se refere a fatos que teriam ocorrido entre outubro de 2002 e o primeiro semestre de 2003.

À época, o denunciante afirma ter acabado de ingressar no seminário, cheio de sonhos relacionados a ser padre, e já acompanhava os religiosos em diversas celebrações. Os supostos crimes teriam acontecido durante suas estadias em casas paroquiais.

Em depoimento formal à igreja, o ex-seminarista disse ter sido atraído pelo suposto primeiro padre abusador por sua “maior abertura de pastoral” – na prática, a permissão ao uso de camisa clerical e da proclamação do Evangelho nas missas.

Quanto ao outro, disse tê-lo procurado por conta do primeiro abuso sofrido, para uma “direção espiritual” com sacramento da confissão que acabaria na cama. “Hoje, mais maduro, sei que eu era nada menos, nada mais, que o seu brinquedo sexual, fazendo uso do respeito e do carinho que tinha por ele”, declarou na denúncia.

Em uma das situações, segundo consta no documento, e afirmação do próprio ex-seminarista, hoje com 36 anos, houve violência extrema, pelo primeiro padre a praticar o ato:

“Estava no seminário, numa noite de muito calor, e o padre falou para eu levar o colchão para o quarto dele, onde tinha ar condicionado. Acordei com o padre (...) ofegante, forçando seu corpo sobre o meu (eu estava de bruços), forçando minha cabeça contra o travesseiro com um dos braços, tapando minha boca com a mão e com a outra abaixando minha cueca e logo depois me penetrando com voracidade. Terminou o ato cruel, ele foi tomar banho e saiu do banheiro como se nada tivesse acontecido e me mandou fazer o mesmo. Até hoje não posso sentir o cheiro do sabonete de uma determinada marca, com o qual me lavei depois de tudo. Perguntei a ele o porquê de ter feito isso comigo, mas ele me mandou calar, pois estava rezando. Com esse padre, o abuso ocorreu uma única vez”, relata.

Sobre o outro suposto abuso, disse não ter havido violência física, mas sim algo que o ex-seminarista considera não menos grave, uma vez que não teria havido o seu consentimento, mas sim uma condução psicológica por alguém que ele respeitava, confiava, e o teria feito acreditar que se tratava de uma cura espiritual.

“Ao entrar na casa paroquial em busca de apoio, ele (padre) já foi me conduzindo com falas suaves, me dando um beijo e quando me dei conta estava na cama com ele. O meu mentor que me mostraria o que era a vida sexual saudável, me usou como brinquedo para satisfazer os seus desejos”.

Sobre o porquê de ter demorado 20 anos para denunciar, o ex-seminarista conta que nesse tempo todo passou por vários processos, como vergonha, culpa,  saída do seminário,  tentativas de suicídio, tratamento psicológico e psiquiátrico, uso de medicamentos, e casamento com uma psicóloga, que o incentivou a usar a dolorosa experiência para evitar que outros tenham a mesma sina.

“Tudo isso é muito difícil para mim. Eu nunca quis que mi nha tragédia pessoal virasse um escândalo, apesar de que, a meu ver, o maior escândalo não é isso ser noticiado; o maior escândalo já é o que ocorreu, que é o estupro  e reiterados abusos sexuais. Não sei do andamento do processo, eu não sei que rumo esse processo vai tomar. Resolvi apelar para a mídia, pois só a voz do povo, só o peso do povo, é realmente determinante para que a igreja, as autoridades eclesiásticas, passem a ouvir melhor a voz da vítima, já que muitas se matam. Somente depois de um ano e meio em que o processo está correndo é que procurei a mídia. Se eu quisesse prejudicar a igreja, prejudicar as autoridades eclesiásticas, já tinha procurado a imprensa, lá no começo, mas não é essa intenção. Quero que a minha voz seja escutada e que outros casos caso semelhantes também que sejam denunciados, pois eu sei e acredito que eu não estou sozinho nesses abusos praticados nos bastidores da igreja”, justifica.

Na quinta-feira, 26, o ex-seminarista foi à Polícia Civil para registrar as referidas situações, por temer por sua integridade física, e ter um respaldo jurídico. Foi lavrado um Termo de Declarações na  Central de Polícia Judiciária. 

 

Redação Abordagem com informações complementares: blogdorodrigo.com.br

Foto internet (meramente ilustrativa)

 

 

 

 




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