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ARTIGO • 10/04/2016

A obra inacabada de David Labs

Pela empresária Inocência Manoel, uma bela homenagem.

A obra inacabada de David Labs

Na última segunda-feira, 04, uma notícia caiu pesadamente sobre familiares, parentes, amigos e conhecidos do escritor assisense David Rogério Labs. Ele iniciava uma nova etapa de sua vida profissional, no Rio de Janeiro, tinha planos e sonhos, interrompidos por um infarto fulminante. Havia apenas dois meses que David tinha deixado Assis em busca de algo maior, e ainda tentava se acostumar com novos hábitos, projetos, amizades e distância dos pais.
A empresária Inocência Manoel, diretora da Inoar Cosméticos tinha forte vínculo com David, que recentemente acabou de escrever sua biografia. Tão logo o conheceu, durante uma entrevista, Inô notou a intimidade e domínio que aquele rapaz de sua cidade tinha com palavras e textos.
Desde o anúncio da morte de David, Inocência sentiu que precisava mostrar a todos quem era aquela pessoa discreta, sensível, que escrevia com a alma, com desenvoltura impressionante, antevendo o que ela queria dizer. Segue abaixo a homenagem de Inocência Manoel a David Rogério Labs.

 

A obra inacabada de David Labs

Demorei alguns dias para ter a coragem que nunca faltou a David: escrever. Quando colocamos as palavras no papel, lançamos ao mundo algumas sentenças, e por isso precisei desse tempo – e desses dias que não me ajudaram a conjugar os verbos de forma correta. Para mim, David ainda É tantas coisas. Graduado em Ciências Políticas e Sociais pela USP, meu amigo também estudou História e cursou a faculdade de Belas Artes. Coisa para poucos.
Transitava entre os idiomas e em qualquer lugar do mundo com facilidade. Eu poderia citar toda sua obra aqui. Suas publicações precisam ser mais do que destacadas: precisam ser reconhecidas! David ganhou por duas vezes o prêmio AFALESP de Literatura, pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 1997 e 1998. Teve contos, crônicas e artigos publicados em diversas revistas e jornais, no interior de São Paulo e na capital. Publicou dois contos em uma coletânea e escreveu dezenas de romances, tendo A Última Carta” publicado pela editora Biruta, em 2012. O livro foi muito bem recebido pela crítica e pelos leitores. O texto é cativante. David criou veredas que não passariam por minha imaginação – se não o conhecesse pessoalmente.
Entre artigos, contos e livros publicados, foram um mar sem fim de palavras que David imortalizou. E os amigos mais próximos talvez saibam: foi David Labs que escreveu, do início de 2014 até meados do último dezembro, a minha biografia. Entregar assim a minha história, e a de meus familiares, a alguém que fosse torná-la de conhecimento público exigiu de mim uma confiança que precisava ser recíproca. Ao meu biógrafo confiei não somente fatos, mas muitos sonhos e desilusões.
avid ouvia, me entrevistava, tirava de mim episódios esquecidos, que eu fazia questão de não florear, mas que do ponto de vista de um grande escritor se tornaram capítulos preciosos. Nos falamos todos os dias, David era parte da minha rotina. Eu sabia quando ele não estava bem, ele sabia quando eu precisava mudar meu foco. Nos sabíamos tão bem.
David nasceu eu Assis, a cidade que me adotou. Entre idas e vindas, estava no Rio de Janeiro, na última segunda-feira. Eu em São Paulo, e acordei triste. Quem me conhece sabe: sou muitas coisas, mas não sou triste. David sabia disso. E se me visse naquela tarde teria certeza de que algo estava errado. Sim, foi o dia em que você se calou, David. Os grandes gênios se vão e dificilmente nos apegamos ao que os levou de nós. Lembramos da obra de Bach, não em como ele morreu. Sabemos o que Leonardo da Vinci deixou, e não do seu funeral.
Dias antes tivemos uma conversa que ainda não me deixa dormir. É certo que ainda precisamos de respostas, e certo que elas virão, porque nós, amigos de David sabemos o quanto este homem tinha para concluir. Pelos testemunhos de todos que o amaram é possível saber que seus sonhos eram maiores. E, se não fossem seus, no mínimo são os sonhos de quem conheceu sua obra. É preciso reconhecer o talento de David Labs, não vamos deixar que suas palavras e ideias caiam no esquecimento. Esse, sim, seria o fim. David é escritor. Este é o verbo. Presente. Indicativo. E, graças a sua obra, ouso dizer que David Labs não tem ponto final.