Abordagem Notícias
UNOPAR/ANHANGUERA
AGRICULTURA • 07/02/2017

'Não podemos criar muitas expectativas em um ambiente de recessão e cortes de gastos'

Presidente da Ocesp, Del Grande fala sobre o cenário agrícola.

'Não podemos criar muitas expectativas em um ambiente de recessão e cortes de gastos'

Edivaldo Del Grande, presidente da Ocesp (Organização das cooperativas do Estado de São Paulo) e Sescoop/SP (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), esteve recentemente na região de Assis por ocasião do evento Coopershow, em Cândido Mota, quando falou à imprensa, em geral. Posteriormente, Abordagem Notícias encaminhou um e-mail ao maior representante do cooperativismo do Estado, com questionamentos que considera ser importante ao setor que envolve toda a cadeia produtiva e comercial. Acompanhe:

 

AN- Estima-se que o Brasil deve ter uma safra recorde este ano. Como está o estado atual das lavouras e qual é a expectativa em relação à comercialização?

EDG - Desde o final do ano passado, esperava-se uma retomada no crescimento da produção, especialmente para a safra de grãos no Brasil. Entretanto, a possibilidade de eventos climáticos tal qual o La Niña gerava ansiedade, pois variações climáticas de maiores proporções poderiam atrapalhar esse desempenho. Entretanto, apesar do excesso de chuvas em algumas localidades e veranicos que aconteceram em outras, no total a produção deve crescer e o produtor definitivamente retomou sua confiança. Com o dólar ainda valorizado, há chance de termos um bom desempenho de maneira geral.

 

AN- O governo federal anunciou uma verba para os empréstimos de pré-custeio da próxima safra. O dinheiro é suficiente?

O crédito rural de forma geral não é suficiente para o financiamento das safras, mas compõe dentro de um mix de operações uma fatia importante, pois, por ter menores taxas de juros, ajuda como ferramenta na gestão dos riscos do negócio.

O pré-custeio é um recurso importante para a próxima safra, uma vez que tem como finalidade a antecipação das compras, especialmente de insumos para a produção. Mais do que um bom sinal para os produtores o anúncio antecipado de um recurso com volume 20% maior. Vale lembrar o efeito negativo da falta do pré-custeio no ano de 2015, quando o mesmo saiu praticamente no início da safra, sendo um dos fatores que atrapalhou o desempenho da produção. A sinalização do governo, de que tem o entendimento da importância do agronegócio para a economia nacional, também é um bom indicativo, mas não podemos criar muitas expectativas em um ambiente de recessão e corte de gastos. Importante frisar que ainda falta um bom seguro de renda, o que atrairia financiadores para a nossa agricultura com taxas menores.

 

AN- As exportações de milho, que foram recordes no ano passado, despencaram agora. O que isso significa isso para o produtor brasileiro e, sobretudo, para o comprador brasileiro (criador de frango, produtor de leite, criador de suínos, etc)?

O Brasil tornou-se player internacional no mercado de milho em função de janelas de oportunidades, a partir de quebra de safra em outros países e baixos preços internacionais (com câmbio favorável para nós). Em boa parte do ano passado, colocávamos milho FOB saindo do Mato Grosso mais barato nos navios do que muitas regiões tradicionalmente produtoras dos Estados Unidos e isso fez com que nosso volume exportado aumentasse em grandes proporções. Neste começo de ano, é natural que esses volumes diminuam, considerando que estamos em início de colheita, com pouca disponibilidade, em função do baixo estoque disponível. Desde maio do ano passado (pico de preços), o valor do milho no mercado interno e futuro tem diminuído, tendendo a estabilizar em um patamar interessante, mantendo a rentabilidade do agricultor, o que pode diminuir os efeitos para aqueles que utilizam ração para produção, como é o caso das aves, suínos e leite.

 

AN - O custo de produção do leite aumentou muito no ano passado, justamente por causa da alta dos grãos, e muita gente abandonou essa atividade. O que vai acontecer com o setor este ano?

A alta dos grãos foi um dos fatores que desestimularam a produção de leite. Devemos considerar também o peso dos custos com mão de obra, o efeito do aumento das importações de leite em pó da Argentina e do Uruguai e as oportunidades de negócios com o aumento dos preços da carne (pecuária de corte). No ano passado, tivemos, a partir do final da safra do sudeste, um movimento com problemas de excesso de chuvas na região sul no momento de sua safra e os preços de referência chegaram aos seus maiores patamares em seis anos. Alguns meses depois os mesmos estavam reduzidos à metade. Essa volatilidade de preços é outro fator que faz com que muitos produtores desistam da atividade. A falta de horizonte, de previsibilidade, mesmo que em alguns momentos remunerem bem, é prejudicial a qualquer atividade econômica de produção.

 

AN - Qual é o compromisso da Ocesp com o segmento agro em geral? Há previsão de algum estímulo diferenciado à produção?

A produção agropecuária enquanto negócio envolve muita complexidade. Ao mesmo tempo em que o produtor luta para redução de custos, ele deve ter um olhar atento ao mercado e todos esses fatores que o envolvem. Não há no mundo modelo societário que melhor se encaixa para dar suporte ao produtor nessas duas pontas que o modelo cooperativista. O Sistema Ocesp tem como foco trabalhar para o desenvolvimento sustentável do cooperativismo no Estado, sendo ponto de apoio às cooperativas paulistas, especialmente na interlocução com os poderes públicos, na formação e capacitação das pessoas ligadas a cooperativas, e na melhoria da gestão e dos resultados das cooperativas.

 

AN - Qual a relevância do cooperativismo dentro das comunidades onde está inserido?

Interessante a pergunta. As cooperativas são importantes empreendimentos coletivos que auxiliam os produtores a diminuir seus custos e a ganhar escala para serem mais competitivos no mercado. Como todos os produtores associados são donos da cooperativa, não há concentração de renda. A cooperativa distribui renda de forma mais justa, proporcional à participação de cada cooperado. Considerando, então, que os cooperados são, invariavelmente, de uma mesma região, eles movimentam a economia local com os rendimentos obtidos por meio da cooperativa, atraindo investimentos em diversas áreas: saúde, educação, infraestrutura, comércio, indústria, etc. Em pesquisa realizada pela USP foi detectado que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de municípios com cooperativas é melhor que os demais. Portanto, o cooperativismo não melhora apenas a vida dos cooperados, mas contribui para o desenvolvimento econômico e social da região, beneficiando toda a comunidade.  

 

AN- Que importância tem um evento como o Coopershow e qual sua impressão sobre o que viu este ano?

A Coopershow reflete a assessoria de primeira prestada pela Coopermota aos produtores rurais. Sempre traz novas tecnologias e informações importantes para o aumento da produção a custos acessíveis. Traz a pesquisa para a realidade de dentro da porteira. Podemos observar que a Coopershow tem crescido a cada ano e se tornou referência para o agricultor de toda a região do Vale do Paranapanema. Além disso, a feira proporciona a aproximação de autoridades com a realidade do agronegócio local, sendo oportunidade para estimular melhorias para a nossa produção agropecuária. Exemplo disso foi a presença marcante do Secretário de Estado da Agricultura, Arnaldo Jardim, que sempre ouve as entidades do setor e tem realizado um trabalho preponderante em prol da economia rural.  




lena pilates
Pharmacia Antiga