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SANTA CASA
ARTIGO • 03/09/2020

Das pequenas tragédias, nascem grandes projetos

Um exemplo disso é o projeto Meu Anjo Daniel.

Das pequenas tragédias, nascem grandes projetos

Privados de passeios, abraços, compras e encontros, em um isolamento ao menos parcial, foi nos aberta a oportunidade de um tempo de reflexão, de autoconhecimento, levando-nos a pensar como temos conduzido as nossas relações, o que temos almejado construir, enfim, o que priorizamos na nossa vida. Seria esse o momento de retirar os excessos daquilo que nos perfaz e procurar o que realmente nos traz a essência do que somos? Como seres sociais, seria talvez o momento oportuno para compreendermos que o que mais precisamos é do calor humano? Seria o momento para reconhecer-nos a partir das atitudes que temos com o outro? Seria, pois, esse o momento propício para observar, ter uma perspectiva além dos limites do ‘eu’ e tornarmos humanos mais empáticos e solidários?

Muitos têm esta visão, uma vez que, durante a quarentena, cresceu o número de ações solidárias. Contudo, nem sempre conseguimos enxergar as oportunidades para agirmos, nem nos consideramos fortes e determinados suficientes para enfrentar situações de dificuldades. Enxergamo-nos, assim, insignificantes diante das questões alheias. Todavia, se ficarmos “à espera de um milagre” da oportunidade de agirmos, talvez nunca cheguemos a concretizar nosso objetivo.

Mas, há pessoas que, através de seu pequeno mundo, conseguem desenvolver grandes projetos. Pessoas que, deixando de pensar em si, partilham a sua vida com os outros. Graças a esses sujeitos determinados e caridosos, a nossa sociedade tem recebido auxílio. Dentre as várias instituições, organizações e associações repletas desses indivíduos, colocar-nos-emos a falar sobre o projeto “Meu Anjo Daniel”.

O projeto nasceu por meio da perda. A partir da triste história da perda de um filho recém-nascido da fundadora do projeto, esta transformou sua dor em força para ajudar àquelas que também viriam a ser mães. No início, seu objetivo era auxiliar as mães grávidas na luta de um atendimento de saúde decente e no auxílio do enxoval. Com o tempo, outras pessoas decidiram participar dessa responsabilidade social pelo desejo de ajudar alguém, dedicando seu tempo, sem remuneração alguma, tornando-se voluntárias, as quais, com generosidade e boa vontade, se dispuseram a ir além dos objetivos primeiros.

Hoje o projeto “Meu Anjo Daniel” maximizou as suas ações, com a criatividade e motivação das pessoas envolvidas, bem como a procura de tantas mães de todo o Brasil, gerando novas ações como cursos profissionalizantes para mães desempregadas e sem qualificação. Nessa perspectiva, a finalidade do projeto não se limitou em entregar enxovais para mães, mas em oferecer também uma oportunidade para estas se sustentarem e criarem seus filhos com dignidade.

Com a ampliação, é evidente que o projeto precisava ainda mais de colaboração. Dessa forma, os cidadãos assisenses têm sido os responsáveis em transformar a realidade dessas mães. São empresários, comerciantes, médicos e outros que disponibilizam doações revertidas para os pagamentos das despesas mensais. Ademais, convém esclarecermos que não há funcionários no projeto, apenas voluntários, inclusive as professoras que ministram os cursos.    

São essas pessoas que concretizaram e têm mantido esses trabalhos. São os voluntários que exercem a solidariedade; os quais, pelo simples fato do desejo de ajudar alguém, se põem em defesa de uma causa, dedicando-se à promoção do bem-estar social.

Assim, reconhecer as pessoas que lutam pela vida de outro, tentando minimizar as dificuldades e os sofrimentos, sem ter ao menos um pagamento por este trabalho, é compreendermos que a caridade vai além da gratificação humana, pois levam o conforto e o amor para as pessoas atendidas, doam-se sem pensar no retorno, enfim, sem ter o interesse pessoal. São essas práticas cidadãs e humanas que constroem uma unidade com a vida e que disseminam os valores como a empatia, respeito, amor ao próximo e compromisso na busca do bem comum. Portanto, ser voluntário é ter um espírito cívico, comprometido com os problemas e necessidades do nosso tempo.

Na nossa história, já tivemos e temos tantas personalidades admiráveis que se voltaram a salvar as vidas, como Kailash Satyarthi, Zilda Arns, Madre Teresa de Calcutá. E há tantas outras que, embora nem sejam vistas nem lembradas, o resultado de suas ações ainda são exemplos de mudanças de vidas por defenderem uma causa em prol de um mundo mais justo.

Quem já experimentou fazer um ato voluntário entende que “aquele que o recebe’’ conquista benefícios, mas “aquele que o oferta” experimenta uma sensação indescritível de plenitude. O psicólogo americano Mark Snyder, pesquisador dedicado a entender as motivações por trás do voluntariado, em uma entrevista com a revista Época (10/08/2017), afirma que “há uma variedade de benefícios proporcionados pelo trabalho voluntário, e isso inclui impulsos na autoestima, na valorização de si mesmo, na aquisição de novas habilidades, novos amigos, melhor bem-estar psicológico e ainda melhor saúde física e uma vida mais longa.” Outrossim, pesquisas também revelam que os trabalhos voluntários altruístas estimulam a alegria e aumentam a imunidade do corpo.

Independente de compreender tais benefícios, o voluntário não centra em si; aliás, despoja-se de si para pensar no outro com uma gama de razões que vai desde reduzir riscos de desastres naturais até a minimização da pobreza e da exclusão social. Nesse sentido, ser voluntário é se pôr em contato com outras vidas, outras realidades. É aprender a enfrentar desafios motivados por valores como justiça, igualdade e liberdade. É engajar-se na transformação e nas relações humanas. É contribuir direta ou indiretamente com aquilo que pode fazer ou se dispor. Em suma, é a satisfação de saber que sua ação faz a diferença na vida de alguém.

Portanto, apesar de nossa insignificância perante as turbulências e os sofrimentos, é relevante pensarmos que na nossa pequenez podemos criar uma corrente, contribuindo para a construção de um mundo menos agressivo e desigual. Esse tem sido, pois, o objetivo do projeto Meu anjo Daniel.

Entretanto, em razão do contexto de pandemia, este vem passando por dificuldades, tanto em doações financeiras quanto em falta de roupas para bebês, não conseguindo, assim, atender a todas as mães. Por isso, criamos a Vaquinha Virtual, para que o projeto continue assistindo as famílias – cerca de 1000 mães de baixa renda e de 400 mães ainda em processo de assistência. Para doação, de qualquer quantia,  acesse http://vaka.me/1306116

Dessa forma, com a ajuda de todos, o Projeto Meu Anjo Daniel continuará restaurando vidas e preparando as mães para garantirem seu próprio sustento e de seus filhos.

Afinal, como afirma o filósofo alemão Friedrich Schiller, “não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos”. Somos, assim, a união de pequenos que aplicam a energia para ajudar o outro, melhorando-nos a nós mesmos. Somos os protagonistas na evolução de um mundo mais humano e solidário.

 Por Andréa Vecchia

 

 




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